Dharmapala
Dharmapala é uma coleção de oito peças composta entre 2008 e 2010 para um instrumentista solista e sons eletroacústicos gerados em tempo real que se apresenta como um ambiente sonoro improvisatório fechado, implementado com o software Pure Data. Algumas de sua peças foram apresentadas diversas vezes tendo o compositor como solista, incluindo um concerto na Third International Pure Data Conference (PDcon09). Naquele evento, duas das peças da coleção foram demonstradas em uma apresentação de artigo contendo a inspiração e o conceito para a obra, seguidos de explicações sobre a sua construção interna, sua implementação no Pure Data, além de comentários e instruções para a execução ao vivo das peças.
Dharmapala V: Mahakala recebeu o prêmio FUNARTE de Composição Clássica de 2010.
- Dharmapala I: Yamantaka (o Conquistador da Morte)
- Dharmapala II: Palden Lhamo (a Deusa)
- Dharmapala III: Vaisravana (o Deus da Prosperidade)
- Dharmapala IV: Tshangs Pa (o Brahma Branco)
- Dharmapala V: Mahakala (o Escuro)
- Dharmapala VI: Hayagriva (Pescoço-de-Cavalo)
- Dharmapala VII: Begtse (o Deus da Guerra)
- Dharmapala VIII: Yama (o Deus da Morte)
Sobre seu conceito musical
O Circuito Dharmapala pode ser considerado um ambiente sonoro exploratório de uma maneira razoavelmente inspirada no trabalho de Pauline Oliveros com a "Deep Listening"[2] e seus trabalhos eletrônicos improvisatórios seminais dos anos 60 tais como "I of IV" e "Bye Bye Butterfly". Concebido como uma máquina eletroacústica automática, o Circuito buscou um design que visa imprimir uma reconhecível coesão musical e unidade de estados de espírito e de páthos às sonoridades por ele fabricadas, de acordo com o tipo de sons que lhe são alimentados por seus canais de entrada pelo músico ao vivo. Guiado e estimulado pelo músico ao vivo, o Circuito é manipulado a produzir sons que se comportam de maneiras muito específicas e inter-relacionadas, criando deste modo oportunidades para o desenvolvimento de um sentido e um direcionamento formal a um pensamento musical. Para realizar isto, o Circuito Dharmapala foi pensado como um sistema interconectado de câmaras sonoras semelhante a um tipo de sistema digestório em que as substâncias ingeridas peregrinariam por diversos estágios, passando por transformações químicas de diferentes tipos, sendo destiladas a seus elementos primários ou ainda combinadas em moléculas mais complexas, isto enquanto viajam de uma câmara a outra. Logicamente (e ainda bem), nunca pretendeu-se levar esta metáfora até as últimas e infelizes consequências no que se refere ao produto final de uma digestão. A obra Dharmapala como um todo foi pensada como uma coleção de diversas peças independentes, não necessariamente com a intenção de serem executadas todas em sequência em um mesmo evento. Em cada peça independente, o músico alimenta o Circuito com os sons de um único instrumento ou voz, seguindo os propositadamente frugais esquemas estruturais motívicos propostos em partitura, e o Circuito irá magnificar e mesmo agigantar as qualidades daquele instrumento, transmutando seus sons em algo diferente, e com alguma sorte, feroz e impactante, com grandes oportunidades para a expressão de nuances musicais.
Sobre o nome Dharmapala
Dharmapala, "Defensor do Caminho da Doutrina" em sânscrito, denota um membro de um grupo de Divindades Iradas Budistas caracterizadas na iconografia como seres poderosos com múltiplas cabeças, braços e pernas, coroados com crânios e desfilando seus dentes afiados em bocarras escancaradas. Eles são comumente mostrados vestidos com colares de cabeças cortadas, caminhando por entre colunas de fogo e pisoteando seus inimigos prostrados e vencidos. Não exatamente malévolos, sua função é a de destruir as paixões da mente e proteger o Dharma, a Doutrina [1]. Existem oito Dharmapalas: Yama (o Deus da Morte), Mahakala (o Escuro), Yamantaka (o Conquistador da Morte), Vaisravana (o Deus da Prosperidade), Hayagriva (Pescoço-de-Cavalo), Palden Lhamo (a Deusa), Tshangs Pa (Brahma Branco) and Begtse (o Deus da Guerra). Todos são considerados manifestações iradas de Bodhisattvas: seres iluminados que por compaixão deixam de atingir o Nirvana para realizar a missão de salvar o resto da humanidade. Estas composições musicais receberam os nomes destas Divindades Iradas pela habilidade que o Circuito eletroacústico finalizado tem de construir com facilidade não somente sonoridades charmosamente horríssonas e assustadoras mas também sons suaves, delicados e medidativos, de uma maneira bastante plástica e com drama e panache, se o músico executante for apto a tal.
Dharmapala V: Mahakala (o Escuro)
para escaleta e sons eletroacústicos gerados ao vivo (2010)
Partitura;Gravação:
Escaleta: Marcus Bittencourt
Dharmapala I: Yamantaka (o Conquistador da Morte)
para berimbau e sons eletroacústicos gerados ao vivo (2008)
Gravação:Berimbau: Marcus Bittencourt
Dharmapala II: Palden Lhamo (a Deusa)
para oscilador eletrônico e sons eletroacústicos gerados ao vivo (2008)
Gravação:Oscilador: Marcus Bittencourt
Referências
[1] KUMAR, Nitin. Wrathful Guardians of Buddhism - Aesthetics and Mythology. 2001. (last accessed 01-02-2009).
[2] OLIVEROS, Pauline. Acoustic and Virtual Space as a Dynamic Element of Music. Leonardo Music Journal, Vol. 5 (1995), pp. 19-22.