Sobre a Escola da Margem

Apesar de termos várias propostas de inovação para as escolas, como o uso de tecnologias digitais e metodologias diferenciadas, ainda enfrentamos graves problemas de ordem estrutural que impedem renovação plena da escola. Desde as políticas governamentais nefastas que enfraquecem a importância da escola e da educação até os novos ditames da nociva “plataformização” da educação, a escola e a educação estão em profundo mal-estar, quase uma desistência de viver, de ser escolar, de existir. O “apostilamento dos conteúdos”, que muitas escolas públicas e privadas vêm adotando nos últimos anos, chega ao seu ápice com o pernicioso uso de plataformas alimentadas com objetivo de aumentar os índices e, por conseguinte, as verbas que acompanham esses números.

É a manutenção do “reino da quantidade” em detrimento da qualidade da educação e da escola, dos sujeitos que ali vivem e convivem, da vida subjetiva, da saúde e do bem-estar de alunos e professores. Esse avanço na “quantificação” da vida suga as pessoas de suas relações humanas, da boa convivência e da vida contemplativa e ativa, lançando-as no limbo de relações ausentes, onde a individuação de alunos e professores é sequestrada e esquecida. É visível para muitos de nós o enfraquecimento das relações de convivialidade e da imagem do ser professor, do ser aluno e do ser escola; parece não haver mais motivação suficiente para pensar, fazer e sentir a escola como chão de experiências e de lugar para pensar outros mundos neste mundo. É como se desaparecesse o sentido da existência.

Diante disso, não é suficiente o uso de novas metodologias sem que o pensamento que sustenta o atual modelo hegemônico de escola seja questionado. Há urgência de pensar em outras epistemologias e ontologias que possam sustentar outros modelos de escola que, de fato, apresentem uma inovação. A inovação se dá apenas quando a imagem e o imaginário (no sentido de uma hermenêutica simbólica) estruturante de uma escola, e das políticas que a governam, sofrem variações. Este projeto passa a se preocupar, para além do nosso atual etnocentrismo escolar, com o estudo de epistemologias e ontologias que se alimentam tanto dos saberes e sabores das tradições quanto dos últimos avanços sociais; pretende instituir o valor social e cognitivo da convivência e se abrir aos diversos horizontes produtores de saberes e práticas de formação e (auto)formação humana; um projeto que retoma o valor simbólico da iniciação e da imagem relacional professores/as e alunos/as e sua existência no planeta, como cidadãos planetários.

O projeto, com duração de um ano, será destinado, especialmente, a professores/as da Educação Básica das escolas do município de Cianorte e região, mas também atenderá, caso tenha demanda, profissionais de outras regiões do país; também contará com a participação de professores do Departamento de Pedagogia, de acadêmicos/as do curso de Pedagogia do Campus Regional de Cianorte e profissionais externos vinculados à educação.

Objetivos:

  • Apresentar a influência que uma cultura normótica exerce sobre a instituição escolar nas suas várias dimensões (sociocultural, política, econômica, filosófica, etc.) e os geradores de mal-estar na comunidade escolar; 
  • Criar redes de estudo transdisciplinar sobre pedagogias e educações que caminham à margem do atual modelo hegemônico de educação e escola herdado da Modernidade.
  •  Instituir práticas escolares baseadas em perspectivas teóricas e ontologias que sustentam outros modos de existência; - Repensar a escola como espaço de tessitura objetiva e subjetiva e aberto às metamorfoses da vida.